Bem, em primeiro lugar peço desculpa por ainda não ter escrito nada sobre a prova. Mas depois do que me aconteceu durante a prova, não estava com vontade nenhuma de descrever o que me aconteceu.
Mas agora, como já dormi uns dias sobre o assunto, a vontade de voltar ao blog lá apareceu.
Então a coisa foi mais ou menos assim:
Tinha o despertador para as 6:00 mas mal passava das 4:00 e já estava desperto. Ainda insisti em dormir e lá consegui... durante cerca de 1 hora. Eram 5:30 e disse para mim mesmo que já não valia a pena, por isso lá me levantei, e comecei a tratar das coisas habituais.
O pequeno almoço foi o mesmo dos treinos longos, Nestum com leite. Como ainda faltavam 3 horas para a partida, carreguei um pouco mais no Nestum.
Depois de comer, começo a besuntar as zonas mais criticas com vaselina e lá me equipo. Faço as verificações de última hora, vejo se falta alguma coisa e se está tudo em ordem. Está tudo, por isso vamos embora!
Apanhei o autocarro, e como não havia trânsito cheguei ao estádio antes do previsto (deviam de ser umas 7:45).
Por volta das 8:00 comi uma banana, e depois foi aguentar a espera ao frio até às 8:30, que era para começar o aquecimento.
Ainda antes do aquecimento, deu para conhecer a
Isa, a
Rute, que iam fazer a Estafeta, e o
João Lima. Mas ele estava tão nervoso que nem me reconheceu (também é normal quando, não tenho nehuma foto minha aqui).
Aquecimento rápido, e bora aguentar os 10min que faltam na partida.
E por fim dá-se o tiro! O 1º objectivo passa por passar pelo pessoal que devia ter ficado mais atrás, mas resolveu meter-se à frente, e encontrar a lebre das 3:00 horas.
Nisto já estamos quase no Areeiro e nem sinal da lebre, depois olho para o relógio e vejo o ritmo: 3:53 min/km!
São quase 12 seg por km a menos que o planeado, mas a surpresa é que a pulsação está abaixo do valor normal (estava a 167bpm em vez de 174bpm), portanto deixo-me ir.
Chego aos 10km com 41 minutos, tomo metade do 1º gel, água e ainda dá para receber algum apoio dos atletas da Estafeta (sabe sempre bem).
Depois a partir daqui apanho um atleta Espanhol, que vai ser o meu companheiro de prova até aos 20km, a lá vamos os 2.
15km, tomo a 2ª metade do 1º gel e mais água. Olho para o relógio novamente e vejo que vou num ritmo que me permitiria acabar a prova em cerca de 2:50h, isto para uma pulsação mais baixa do que em treino!
Aproveito a descida do Marquês até ao Terreiro do Paço para descançar as pernas, sem aumentar muito o ritmo.
Estamos quase a chegar ao abastecimento dos 20km e não sei porquê, mas o meu companheiro fica para trás. Como à nossa frente ia outro atleta, aproveito para fazer dele a minha lebre.
Nisto chego à partida da Meia, olho para o relógio e vejo 1:25:06h! Espectáculo!
Mas depois começou a parte que considero a pior do percurso, a recta interminável até Algés. O atleta que ia à minha frente ficou para trás, e fico practicamente sozinho durante a recta toda (já se vê muito poucos atletas e todos estão pelo menos a uns 100m).
Km 25, tomo a 1ª metade do 2º gel e empurro com mais água. Estava com um pouco de medo de ter alguma dor de burro, devido a estar a beber água em todos os abastecimentos (aconteceu.-me nos treinos), mas o corpo estava-se a dar muito bem.
Depois, finalmente chego a Algés, faz-se o retorno, e lá se volta para a recta interminável. Aqui ainda se vê menos atletas à minha frente, e ainda para mais agora tenho vento em contra (não muito, mas já com quase 30km nas pernas, aquilo faz mossa).
30km, tomo a 2ª metade do 2º, e último, gel e mais água.
Chego ao Cais do Sodré, e sinto-me aliviado de já ter passado pela pior parte. Agora era só aguentar a Almirante Reis.
Mas, como nem tudo corre como o planeado, como ás vezes uma pequena coisa estraga tudo, a única coisa que nunca, mas nunca pensei que me fosse acontecer, aconteceu.
Estava agora nos 36km, só faltava a subida e fiquei sem combustível...
Nos treinos de 30km, tomei os mesmos 2 geis que tomei durante a prova e senti-me bem durante o tempo todo, e logo agora esta merda acontece...
E eu que em todas as provas que já fiz, nunca parei nem desisti, vi-me agora forçado a parar e foram muitas as vezes onde pensei em ir-me embora dali.
Sentia-me tonto, como se me estivesse sentado e me tivesse levantado de repente. Sentia as pernas fortes, mas ao mesmo tempo sem forças para correr.
Foram vários os atletas, portugueses e estrangeiros, que passaram por mim e puxaram por mim, mas as palavras deles simplesmente não entravam na minha cabeça, ouvia-os mas ao mesmo tempo não.
Houve duas alturas onde ainda pensei que ia cair ao chão, mas lá me aguentei.
E para culminar tudo, quando o meu orgulho já estava na lama, passa por mim a lebre das 3:00h. E aí, finalmente caí na realidade, o meu grande objectivo foi-se, esfumou-se, foi comido, cospido, pisado, ect...
Mas tenho que agradecer ao atleta lebre, durante a subida foi ele que puxou (e muito!) não só por mim, mas por todos os outros que foram devorados pelo chamado muro.
Mesmo assim, e após ter feito a subida com o grupo das 3:00h, ainda tive que parar quando já só faltavam uns 400m para o fim. Depois lá arranjei forças paras os 400m finais.
E assim foi, passei a meta com 3:02:02h (tempo de chip).
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Devia estar com um sorriso de orelha a orelha, mas só me apetecia gritar de fúria... |
Estava tão mal que nem consegui festejar o cruzar da meta, e aquele que devia ter sido o meu melhor momento desportivo até à data, foi o meu 2º pior, e só me apetecia chorar, gritar e sair dali para fora.
Mas a 1ª coisa que fiz, foi comer. Ainda antes de sair da pista comi uma banana, bebi chá, comi a barra de cereais e ainda a maça que estavam no saco.
Depois, como tinha a minha mãe e avós ali, ainda lhes cravei para ir à barraquinha do pão/bolos. Aí mamei um salame, uma broa (aquele bolo pequeno, não o pão), meio pão com chouriço, e ainda uma merenda que a minha avó tinha trazido.
Não sei se esta fome toda foi de raiva ou se foi mesmo de necessidade. Só sei, que aí 1 hora depois já me sentia muito melhor, embora o orgulho ainda estivesse muribundo. E assim ficou até 3ª-feira...
Aquilo que mais me lixa, é que eu podia ter feito muito melhor, se tivesse aproveitado as bananas dos abastecimentos (principalmente a partir dos 25km), ou se tivesse trazido mais 1 ou 2 geis.
É que pernas, eu tinha. E mesmo sem forças, não senti grande dificuldade na Almirante Reis.
E inclusive, não fiquei quase nada dorido e ontem até já recomecei a treinar (embora todos os treinos desta semana sejam de recuperação).
Mas enfim, o que já está já está. E que isto me sirva de lição para provas futuras...
Agora vou-me mas é focar na recuperação, para depois voltar em força aos treinos, e focar-me nas provas de 2013.
Por fim, quero apenas desejar muitos parabéns aos outros recém Maratonistas. E claro, aos Meio-Maratonistas e Estafetas!
E também agradecer todo o apoio que me foi dado tanto antes como durante a prova!
E por agora é tudo.
Boas corridas!